UM DOS CRIADORES DA ‘NOUVELLE CUISINE’ E DO BOCUSE d’Or
PAUL BOCUSE – 1926 – 2018
Conhecido como “papa” da gastronomia francesa, o estrelado chef Paul Bocuse morreu aos 91 anos, informou, neste sábado (20/01), o ministro francês do Interior, Gérard Collomb.
“A gastronomia está de luto. Que nossos chefs nos quatro cantos do mundo cultivem os frutos de sua paixão.” .1975/AFP
Paul Bocuse, que ostentou estrelas no guia “Michelin” por mais de cinco décadas, é um dos criadores da “nouvelle cuisine“, movimento que revolucionou a gastronomia francesa pregando leveza aos pratos e dando especial atenção à apresentação. Criou um império de restaurantes, que seguiu da França para EUA e Japão, e se tornou, além de modelo de empreendedorismo, celebridade.
Entre suas receitas consagradas, a mais famosa era a sopa de trufas: uma combinação de trufas, foie gras e caldo de frango, em uma tigela de porção única coberta por massa folhada.
Mas sua contribuição vai além, ao defender a simplicidade e a seleção de produtos de qualidade. Por isso, foi nomeado chef do século mais de uma vez.
“Tenho três estrelas e sempre tive três mulheres”, já disse ao jornal “Libération”. Bocuse, que em 1946 se casou com Raymonde Duvert, 20 anos depois conheceu Raymone Carlut e aos 70 anos se uniu a Patricia Zizza, que administrava sua carreira.
Paul Bocuse nasceu em 1926 às margens do Rio Saône, na pequena Collonges-au-Mont-d’Or. Foi nessa região que começou a se aproximar da gastronomia. No restaurante da família, dava continuidade a uma linhagem de cozinheiros que remontava a 1765. E é lá que fica o principal de seus restaurantes.
Aos 15 anos, se tornou aprendiz de Claude Maret. Em 1944, se alistou nas Forças Francesas Livres para combater na Alemanha nazista. Depois da guerra, continuou sua formação e, em 1958, abriu seu próprio restaurante, recuperando o L’Auberge du Pont, a casa da família, rebatizada com seu próprio nome. Em 1965, recebeu a terceira das estrelas, que nunca lhe abandonaram.
Mas o auge da carreira veio no início da década de 1970, com a “nouvelle cuisine”.
Bocuse consolidou o movimento ao lançar um livro de receitas baseadas nos preceitos dessa inovadora forma de cozinhar. O movimento representou também a consagração dos cozinheiros como estrelas midiáticas, circunstância que Bocuse aproveitou com habilidade.
Em 1990, fundou o Instituto Paul Bocuse, templo de aprendizagem da profissão, com sede em Lyon. Um pouco antes, criou o Bocuse d’Or (1987), prestigiada competição mundial de cozinha.
A saúde do chef que inspirou a animação “Ratatouille” (2007) fraquejou com o Parkinson, mas ele não perdeu o bom humor. Em 2014, por exemplo, se submeteu a uma complicada cirurgia e, ao se recuperar, disse à sua mulher: “Querida, fui bem-sucedido na vida, mas fracassei na morte”.
“A vida é uma piada. Portanto, é preciso trabalhar como se fôssemos morrer com cem anos e viver como se fôssemos morrer amanhã”, disse certa vez o chef.