PORTINHAS DE COMÉRCIO TOMAM RUAS DA VILA BUARQUE, na região central de SP
O modelo de negócio é similar ao dos quiosques dos shoppings, que têm uma operação simplificada e custo reduzido
20/02/2025 Diário do Comércio – Márcia Rodrigues /
Quem circula pelas ruas da Vila Buarque, na região central de São Paulo, pode comprar pão, tomar sorvete, comer um pastel de nata ou outras comidinhas sem sair da calçada.
O comércio do bairro vem ganhando cada vez mais espaços desse tipo, mas com um toque especial nas calçadas, que ganham bancos, flores e decoração.
Aos fins de semana, é comum ver as calçadas cheias de pessoas em frente às portinhas. A maioria, já acostumada, se organiza para fazer o pedido e se acomodar nas sarjetas para comer lá mesmo junto com amigos ou família.
SORVETERIA DESTACA SABORES DO BRASIL NO CARDÁPIO
O empresário Anderson Maciel Boeira é natural de Feira de Santana (BA) e resolveu abrir a sorveteria Cangote há 3 anos, depois de precisar fechar as portas do seu restaurante nordestino durante a pandemia.
“A sorveteria era um dos projetos que eu tinha ainda quando o restaurante estava aberto. Minha ideia era criar diferentes espaços gastronômicos temáticos pela cidade, de olho na falta de opções dos diferentes sabores de frutas existentes pelo país”, diz o empresário.
Ele conta que o formato da sorveteria – sem salão para os clientes – foi o que conseguiu pagar, depois de fechar as portas do restaurante. Boeira começou o negócio sozinho, comprando os ingredientes, produzindo os sorvetes e atendendo aos clientes. Hoje ele conta com quatro funcionários na operação.
A sorveteria oferece 10 sabores diferentes por dia. Os fixos são cajá, tapioca e nata goiaba. O preço do sorvete com uma bola é R$ 14 no copo e com duas, R$ 22. Na casquinha há um adicional de R$ 3. Há também a opção de pote com 500 ml para levar para casa, que custa R$ 49.
Por dia a sorveteria produz de 50 a 70 litros de sorvetes. Na alta estação, a Cangote atende cerca de 8 mil pessoas por mês.
O próximo passo de Boeira é expandir a marca. “Ainda não sei se abrirei uma fábrica central para fazer uma expansão mais agressiva ou se vou começar pelos bairros.”
PÃES ARTESANAIS E COM FARINHA ORGÂNICA
O casal Felipe Almeida e Amanda Pereira abriu a padaria Seu Filão em 2018. Inicialmente, os pães artesanais e orgânicos eram vendidos em feiras e eventos gastronômicos. Depois de um curto período em um espaço físico na Vila Madalena, os dois migraram para a Vila Buarque.
No novo bairro, a Seu Filão ganhou força na pandemia com os pedidos delivery. “Muita gente tentou fazer pão durante o período de isolamento e viu o quanto é trabalhoso, o que deu mais notoriedade para os nossos pães. Afinal, o nosso processo de produção é artesanal. O pão que assamos hoje, por exemplo, teve a massa preparada na manhã do dia anterior”, comenta Almeida.
A cozinha, que atualmente tem 15 metros quadrados, ganhará um espaço extra em breve, com a construção de um mezanino no prédio, que tem o pé direito alto. Com a obra, eles esperam dobrar a capacidade de produção.
O cardápio contém 30 tipos de pães diferentes. Por dia, são feitos apenas 6 deles. O mais barato é a ciabata, de R$ 8. O mais caro é o pão de chocolate, R$ 55.
QUITUTES PORTUGUESES NA CALÇADA
O empresário Tiago Faccio abriu uma unidade da Portugo, franquia de quitutes portugueses, na Vila Buarque, em outubro de 2022. Ele diz que optou pelo “formato portinha” inspirado no comércio “que já é pulsante” em outros países. Além, é claro, de deixar a operação mais barata.
“Não sinto falta de ter um salão para atender aos clientes. O modelo portinha acaba sendo mais seguro do que o tradicional e, quem compra, já conhece este tipo de comércio e se adaptou à cultura de comprar o pastel de nata e ir embora”, diz Faccio.
Para aqueles que querem degustar os pastéis de nata no local, há também combos com café para acompanhar e bancos colocados estrategicamente na calçada.
O movimento é maior na hora do almoço e aos fins de semana, segundo ele. Ao todo, seis funcionários compõem a equipe. Por mês são vendidos 6 mil pasteis.
COMÉRCIO DE PORTINHA EQUIVALE AOS QUIOSQUES NOS SHOPPINGS
Para Cristina Souza, CEO da Gouvêa Foodservice, empresa da Gouvêa Ecosystem, esse tipo de negócio é similar aos quiosques dos shoppings centers, que têm uma operação bastante simplificada.
“Tanto o comércio de porta quanto os quiosques são indicados para negócios que tenham um cardápio com poucas opções, como cookie, sucos, pão de queijo e café, entre outros. Quanto menor a variedade, mais interessante é para este modelo. O pastel, por exemplo, o empreendedor recebe o produto pronto para fritar”, diz Cristina.
A especialista lembra que o comércio de portinha de rua vem da Ásia e chegou ao Brasil com a entrada da rede The Coffee no mercado nacional. “A marca mostrou que dá para atender o consumidor com monoproduto ou com um mix reduzido de produtos. É bacana porque atende o consumidor de forma rápida e permite a evolução dos negócios do microempreendedor individual (MEI), por exemplo, que tem a chances de crescer.”
Cristina destaca que essa operação é vista mais como uma evolução de quem já empreendeu do que uma alternativa de primeiro formato de negócio.
IMAGENS: divulgação