ROTA DO FRANGO COM POLENTA DO ABC: RESTAURANTE SÃO JUDAS TADEU FECHA AS PORTAS DEPOIS DE 67 ANOS

Em 1949, os caçadores que passavam por São Bernardo do Campo, no ABC paulista, avisavam a dona Santa Demarchi:

“Queremos almoçar na volta da caçada. A senhora pode matar um frango e preparar para nós?”.

Os frangos, criados no quintal, eram temperados com muitas ervas e preparados em molho de tomate, e servidos sobre uma polenta mole.

Com o tempo, aqueles caçadores passaram a levar as famílias, nos fins de semana, e dona Santa colocou mais mesas no espaço. Foram várias ampliações até o restaurante São Judas chegar a seus atuais 16 mil metros quadrados (pouco mais que o equivalente a dois campos do estádio do Morumbi).

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Até o dia 1o de janeiro, no salão do primeiro andar poderiam almoçar 2.850 pessoas.

Com os andares superiores, que a família Demarchi abria para eventos, seriam até 4.200 clientes.

“Era um restaurante extremamente democrático, havia tanto executivos quanto trabalhadores”, lembra o secretário municipal de Direitos Humanos de São Paulo, Eduardo Suplicy.

“Passei a frequentar o São Judas quando comecei a interagir com os metalúrgicos do ABC e o presidente Lula, em 1976”.

A casa, uma das maiores do país, fechou as portas definitivamente na semana passada.

“Não existem mais restaurantes com esse tamanho, e com os custos que isso demanda. Hoje as casas são pequenas, com alta rotatividade”, diz Vinícius Demarchi, 31, neto de dona Santa.

“A crise afetou o ABC paulista e também o São Judas. Há anos os resultados vêm diminuindo e fechar as portas foi a melhor decisão”, explica ele, que, por anos, foi gerente operacional da casa.

No Facebook e em sites de avaliação como o Tripadvisor, clientes também avaliavam que a qualidade da comida caiu.

O caçula da terceira geração tem na memória números áureos do restaurante.

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Em 2005, a casa atendia 65 mil clientes por mês.

Em 2010, eram servidas entre cinco e seis toneladas de frango por semana.
“Nos anos 1990, em um Dia das Mães, atendemos 11 mil pessoas em um único dia.”

Mas os números mudaram ultimamente. A frequência passou a ser de 18 mil clientes por mês.

Também mudou a receita mais famosa, de acordo com os pedidos da própria clientela: a carne ensopada passou a ser frita, assim como a polenta.
O frango à passarinho ficava na salmoura antes de entrar nas grandes fritadeiras, de 200 litros cada uma, e por lá ficava por cerca de dez minutos, até ganhar um tom dourado.

“O segredo era a alta temperatura [de 200ºC] do óleo. Como as fritadeiras eram grandes, não havia perda de calor com a entrada das porções.”

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“Quem não tem uma lembrança de lá? Era uma casa muito acolhedora, apesar do tamanho”, diz.

A sede do restaurante, que tem duas franquias, foi vendida a um grupo “com interesses mobiliários”.

“A intenção da família, que esteve a vida inteira nesse ramo, é de abrir outra coisa. Mas não nesse momento do mercado”, diz Demarchi.

As franquias (uma em Jundiaí e outra em um shopping de São Bernardo) devem permanecer abertas.
O sucesso da receita atraía gente de longe (e alguns famosos) para a região, que passou a ser conhecida como rota do frango com polenta –integrada por outras casas que seguiram o sucesso do São Judas e abriram por ali.

“Vieram Maradona, Pelé e muitos artistas”, diz Demarchi – também se apresentaram na casa nomes como Milton Nascimento, Toquinho, Sérgio Reis e Chitãozinho e Xororó. “Só nunca conseguimos trazer o rei Roberto Carlos.”

O São Judas também era conhecido por ser sede de reuniões de políticos, principalmente com o ex-presidente Lula, morador de São Bernardo do Campo.

Em 2006, por exemplo, a colunista Mônica Bergamo informou que, em um jantar de arrecadação de fundos para o PT, a casa tirou do cardápio sua tradicional salada de lula.

“Muita gente fala isso, mas nos últimos anos acho que ele deve ter entrado duas ou três vezes lá.”

O vice-prefeito de São Bernardo, Frank Aguiar, lembra que conheceu a atual mulher no São Judas – onde chegou a fazer a festa de casamento.
“Há mais de dez anos eu tinha o hábito de fazer ao menos um show por ano lá – sempre estavam superlotados”, diz.

“Quando eu tinha reuniões para fazer na hora do almoço, sempre marcava lá e pedia um frango desossado na brasa ao Tatu – o garçom-cantor de lá, que chegou a tocar no meu DVD de 20 anos de carreira e que sempre chamo para trabalhar quando dou festas em casa”, conta.

“A casa não pode fechar, é um dos maiores patrimônios gastronômicos e culturais do ABC”.

O ministro das Cidades, Gilberto Kassab, é outro que lembra com carinho do São Judas.

MAGÊ FLORES, FOLHA DE SÃO PAULO – 07/01/2016
Restaurante São Judas
Marcio Capovilla/Folhapress

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